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Audccon: Tinha patrão, hoje tenho cliente: as diferenças de ser doméstica no Brasil e nos EUA




30/09/2021

Ex-BBB gerou polêmica ao reclamar que não achava alguém para 'fazer tudo' para ela em sua casa em Orlando, na Flórida; episódio evidenciou a diferença cultural radical entre os dois países em relação a essa atividade.

"Patrão vem como uma autoridade, como 'você faz aquilo que eu estou falando', não é como uma igualdade. Eu senti isso na pele e minha mãe também sentiu isso muito forte. Cliente é diferente. O cliente te respeita, te olha nos olhos, te valoriza, reconhece o seu esforço e o seu trabalho. E ele te paga por isso e paga bem."

Para Paula Costa, de 53 anos e faxineira em Boston há mais de 20, a diferença entre ter "patrões" e ter "clientes" é um dos pontos fundamentais que distinguem a experiência de ser uma trabalhadora doméstica no Brasil e nos Estados Unidos. Ela conhece essa diferença na própria trajetória. Filha de doméstica, começou na profissão aos 9 anos, sem receber nada por isso, como uma dessas meninas que são "pegas para criar" por famílias mais ricas, ganhando moradia em troca de trabalho, que conciliava com a escola. 

Nos Estados Unidos, começou como ajudante de faxineira e atualmente tem seu próprio negócio, sendo ela agora quem às vezes contrata ajudantes para dar conta do serviço. "Eu sou uma empreendedora, tenho uma companhia pequenininha, mas ela é minha. 'Beehive' é o nome dela, colmeia em inglês, porque se eu tiver alguém trabalhando para mim, nós vamos ser unidos, eu não vou explorar ninguém, a gente vai trabalhar junto e se valorizar. Por isso botei esse nome." 

Ex-BBB em busca de doméstica nos EUA 

A diferença na cultura do trabalho doméstico no Brasil e nos Estados Unidos gerou polêmica nas redes sociais recentemente, após a ex-BBB e influenciadora digital Adriana Sant'Anna reclamar no seu Instagram da dificuldade de encontrar uma empregada doméstica em Orlando, na Flórida.

"Aqui ganha por hora de trabalho e eu quero alguém para ficar aqui o tempo todo, fazendo tudo para mim e não acho", disse Sant'Anna, em vídeo publicado na rede social. "Eu preciso trabalhar, essas coisas que tenho que ficar fazendo não dá, que é lavar roupa, passar, arrumar, organizar, tirar bagunça, pegar roupa suja de criança." "A gente no Brasil estava feita. Porque lá [no Brasil] uma pessoa faz tudo. 

Aqui [nos Estados Unidos], para passar, 25 dólares a hora a mais, para dobrar 25 dólares. Ah, para poder esticar o braço, mais 10 dólares. É assim. 

Então, você que tem alguém no Brasil, ajoelha e agradeça a Jesus", completou. 

Depois de sofrer uma onda de críticas, a ex-BBB voltou a postar, agora para se defender. "Em momento algum pedi uma escrava, pelo contrário, eu solicitava um 'anjo' para cuidar de tudo", escreveu a influenciadora. "Até porque o salário que estou oferecendo é de US$ 5 mil [cerca de R$ 25,9 mil] para trabalhar de segunda a sexta, das 8h às 15h. Se inclusive calcular, verá que é muito mais do que US$ 25 a hora." Pagar melhores salários é a sugestão do presidente americano Joe Biden para empregadores dos Estados Unidos que têm se queixado de dificuldade para contratar, em meio à retomada da economia americana, com o avanço da vacinação contra a covid19. 

"Vocês estavam me perguntando... 'Está sabendo? Empregadores não conseguem encontrar trabalhadores.' Eu digo: 'Paguem mais a eles'", afirmou Biden, durante uma coletiva de imprensa ao fim de junho. "[Empregadores] vão ter que competir e começar a pagar a quem trabalha duro um salário decente", completou o democrata. 

'Nos EUA, trabalho doméstico é serviço caro' 

A doutora em Educação e ex-faxineira Heloiza Barbosa lançou em março de 2020 o Faxina, um podcast que conta as histórias de faxineiros e faxineiras brasileiras que trabalham nos Estados Unidos.

"O trabalho doméstico aqui tem categorias  diferentes: tem aquele que lida com a limpeza de casa, o que lida com os cuidados das crianças, o das cuidadoras de idosos, o de cozinha e o de manutenção da casa funcionando", enumera 

Heloiza, que vive nos Estados Unidos desde 1997."São serviços contratados e são serviços caros, se você está acostumado no Brasil a pagar muito pouco por isso", explica a pedagoga. "Aí já tem uma diferença: a ideia de serviços prestados, ou seja, você não é empregado de alguém como o trabalhador doméstico é no Brasil, você é dono da sua empresa e vende o serviço para a pessoa que te contrata." 

A diferença parece bastante óbvia com relação a uma trabalhadora doméstica brasileira mensalista, que presta serviços a uma pessoa ou família de forma contínua, mediante um salário fixo. Mas Heloiza afirma que a dinâmica também é distinta do trabalho das diaristas, profissionais autônomas que atendem famílias diversas, sem vínculo empregatício. 

"No Brasil, você paga a diária da pessoa para ela fazer absolutamente tudo dentro de uma casa. Se você fosse transpor isso para os Estados Unidos, seria muito caro, porque são várias categorias de serviços, então é uma coisa que muito poucas famílias podem pagar."  

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