08/10/2020

Atualmente conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Dimas Ramalho apontou os tecnólogos como engrenagem essencial da atualidade, falou da regulamentação da profissão, alternativa para desemprego, entre outros tópicos

Por Rhayana Araújo

Nesta terça-feira, dia 6 de outubro, foi comemorado o Dia do Tecnólogo no Estado de São Paulo. Esta data foi instituída em 1997, por meio do Projeto de Lei nº 9.657/1997, de autoria do então deputado estadual Dimas Ramalho, atualmente ocupando a cadeira de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. O Sindicato dos Tecnólogos de SP conversou com o conselheiro sobre a criação da data e importância dos Tecnólogos para o país.

“O fato de o calendário oficial do Estado reservar uma data para homenagear o Tecnólogo significa que a sociedade inteira, representada pelo parlamento, reconhece a categoria como digna de respeito e admiração”, ressaltou.

Dimas Ramalho ainda comentou, entre outros assuntos, sobre o papel deste profissional no mercado pós-covid-19. “A pandemia é um elemento gigantesco na composição da nova economia, que deve se consolidar nas próximas décadas, mas não podemos esquecer que o mundo já vinha sendo transformado rapidamente em razão da revolução digital”, reiterou.

Confira a entrevista, na íntegra, a seguir:

 Sindicato: Há 23 anos, foi instituído o Dia do Tecnólogo no Estado de São Paulo, por meio do seu projeto de Lei 9.657/1997, sendo uma data muito importante para a categoria. Por que Vossa Excelência decidiu criar a data?

Dimas Ramalho: Porque a categoria merecia uma data em sua homenagem. Lembro-me que, à época, quando apresentei o Projeto de Lei na Assembleia Legislativa, o Centro Paula Souza havia completado 25 anos. A efeméride era um gancho importante, porque, na prática, a instituição criou a figura do tecnólogo no Brasil, com o objetivo de atender à demanda de mão de obra especializada e qualificada na indústria.

Sindicato: De que forma Vossa Excelência acredita que a criação da data ajudou no reconhecimento do profissional Tecnólogo e possibilitou avanços para a categoria no Estado de São Paulo?

Dimas Ramalho: O fato de o calendário oficial do Estado reservar uma data para homenagear o tecnólogo significa que a sociedade inteira, representada pelo parlamento, reconhece a categoria como digna de respeito e admiração. Isso está expresso, inclusive, nos pareceres das Comissões da Assembleia Legislativa que analisaram o Projeto de Lei ao longo da tramitação. Trata-se de algo simbólico e que marca a conquista de um espaço.

Sindicato: A profissão ainda não é regulamentada. Desde 2007, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 2245/2007, que trata da Regulamentação da Profissão dos Tecnólogos. Em sua opinião, quais são os entraves que dificultam a regulamentação dos profissionais Tecnólogos?

Dimas Ramalho: A proposta de regulamentar a profissão, exigindo registro profissional, estabelecendo as atribuições e outros parâmetros por lei, é importantíssima para a valorização da classe. Ocorre que a política tem um tempo próprio. É difícil entender todos os fatores que contribuem para uma matéria avançar ou não no Legislativo. Eu sei que o Projeto de Lei já tem pareceres favoráveis em comissões técnicas e que houve iniciativas para inclusão do texto na pauta até o ano passado. Em 2020, os planos de todos foram atropelados pela pandemia. A evolução do tema vai depender de como a Câmara vai remontar sua agenda para 2021.

Sindicato: Os Tecnólogos possuem uma formação com duração específica nas áreas de licenciatura e bacharelado, mas com bastante foco no mercado de trabalho. Em sua opinião, a regulamentação do segmento e o investimento nesse tipo de formação é uma alternativa para a especialização da mão de obra brasileira?

Dimas Ramalho: Não tenho dúvidas. Qual é a essência do tecnólogo? É um profissional que estuda uma área específica, com alto grau de tecnologia aplicada, para colocar em prática suas habilidades e movimentar um setor econômico. A regulamentação traz mais segurança jurídica para quem se dedicou ao curso e para quem vai contratar o profissional. Já o investimento na formação, em qualquer nível, sempre é um caminho estratégico, com retorno garantido.

Sindicato: Desta forma, seria uma alternativa ao alto índice de desemprego?

Dimas Ramalho: Em conversas com analistas de mercado e empresários, já ouvi muito a seguinte constatação: o desemprego nem sempre é causado pela falta de vagas. Em algumas situações, principalmente nos setores de ponta, que envolvem tecnologia e conhecimentos avançados, os candidatos não preenchem os requisitos e todos saem perdendo. Quem procura emprego não ganha a chance de mostrar seu trabalho e o empresário continua sem mão de obra para concretizar os projetos. Sou convicto de que o investimento na formação profissional é o caminho mais seguro para reduzir o desemprego no longo prazo e com estabilidade.

Sindicato: O mercado brasileiro deve ser muito exigido no pós-pandemia. Como o senhor vê o papel dos profissionais Tecnólogos (que têm formação focada na produção) neste cenário, como uma das peças-chave da engrenagem do desenvolvimento?

Dimas Ramalho: A pandemia é um elemento gigantesco na composição da nova economia, que deve se consolidar nas próximas décadas, mas não podemos esquecer que o mundo já vinha sendo transformado rapidamente em razão da revolução digital. Antes de retomar a produção, será preciso perguntar o que deve continuar sendo produzido e em que escala. As necessidades e os desejos individuais estão em mutação. O tecnólogo, como já disse, é uma engrenagem essencial desse novo mundo, porque domina conhecimentos obscuros para a maioria dos indivíduos e os coloca em prática. O papel de vocês é trabalhar para que o impacto disso seja positivo para a sociedade no fim das contas.

Sindicato: Poderia deixar uma mensagem aos profissionais Tecnólogos do Estado de São Paulo?

Dimas Ramalho: Vocês são muito importantes para a sociedade, mais do que nunca. O Estado de São Paulo, pela relevância econômica, sempre foi um grande polo tecnológico e um mercado de trabalho que demanda especialistas. Mas não esqueçam que o mundo mudou e vocês hoje podem se inserir em cadeias produtivas descentralizadas, trabalhando em conjunto com pessoas de outros lugares. As áreas escolhidas por vocês são os motores da inovação e da economia. Com ideias e confiança, a oportunidade pode ser construída. Não espere ela bater à porta.