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Artigo: Os serviços ecossistêmicos prestados pelas águas em bacias hidrográficas saudáveis




Artigo: Os serviços ecossistêmicos prestados pelas águas em bacias hidrográficas saudáveis

22/03/2019

 

Por Juliana Alencar

A relação do homem com a água é complexa, pois extrapola a dependência no nível da sobrevivência biológica, uma vez que a sociedade se moldou com base no seu uso e depende dele também para a geração de energia, sua locomoção, seus processos produtivos e o lazer, sendo a água um recurso essencial para o desenvolvimento da sociedade. No entanto o que se vê na prática não traduz a dimensão desta importância e o acesso à água não é uma realidade unânime em todo o mundo.

Segundo relatório da ANA de 2018, nas áreas urbanizadas Brasileiras 39% dos cursos d’água são considerados segundo o IQA (Índice de qualidade das águas) com qualidade Regular, Ruim ou Péssima, o que limita muito o uso das águas nas áreas urbanas, sendo uma das principais causas da crise hídrica. Grandes cidades brasileiras como São Paulo, por exemplo, precisam aduzir boa parte da água para o abastecimento da cidade de bacias hidrográficas distantes devido ao elevado grau de degradação dos corpos d'água dentro da cidade, que não atendem se quer o padrão de qualidade da água exigido para corpos d'água classe 4, que segundo a CONAMA 357, são aqueles destinados à navegação e à harmonia paisagística. As águas provenientes de bacias hidrográficas próximas, como o caso dos reservatórios Billings e Guarapiranga, ainda que estejam em melhor estado, estão sujeitas a um constante processo de degradação devido ao lançamento de cargas poluidoras resultado da ocupação irregular em suas margens, elevando o custo do tratamento da água.

A capacidade que as bacias hidrográficas têm de reciclar a água é um de seus serviços mais valiosos, uma vez que a perda da qualidade da água resulta em danos à saúde humana, redução da produtividade de culturas e diminuição do potencial de geração de energia em países dependentes da energia hidroelétrica, o que resulta por sua vez em uma sobrecarga para a parcela mais carente da população. Os países industrializados têm dependido cada vez mais de processos sofisticados para a remoção de contaminantes da água em virtude da diminuição da qualidade de seus mananciais, fazendo com que a água tenha elevado custo.

Além disso, a mudança no estilo de vida do homem, com a migração do campo para as cidades, tem resultado em uma demanda crescente pela água, o que faz com as bacias hidrográficas saudáveis sejam de elevado valor para a sociedade, uma vez que estas são capazes de prover este recurso em maior quantidade e melhor qualidade. Segundo Postel & Barton (2005), pesquisas realizadas nos EUA apontam que as águas provenientes de bacias com 60% de florestas, que atuam no controle de cargas poluentes, custam 3 vezes menos para serem tratadas do que as provenientes de bacias urbanizadas com apenas 10%.

Segundo Guedes & Seehusen (2011), há quatro categorias de serviços ambientais: Serviços de provisão, relacionados à capacidade do ecossistema de prover bens, como alimentos e matéria prima; Serviços reguladores, relacionados aos processos naturais que regulam condições ambientais, que são a base de sustentação da vida humana, como a regulação do clima e a ciclagem da água; Serviços culturais, associados à capacidade do ecossistema em prover benefícios ligados à recreação, educação, espiritualidade e estética; e Serviços de suporte, relacionados aos processos de suporte aos demais serviços, como a ciclagem de nutrientes e a formação do solo.

A importância da manutenção de bacias hidrográficas saudáveis vai, portanto, muito além da questão do abastecimento de água da população, o que por si só já justificaria qualquer ação neste sentido. Bacias hidrográficas saudáveis são grandes responsáveis pela regulação climática, pelo controle de processos erosivos, pela redução da ocorrência de inundações, pela melhoria na qualidade de vida da população e por diversos ganhos ecológicos. Que neste 22 de março possamos lembrar dessas diversas outras vocações das águas e possamos nos empenhar mais na manutenção de bacias hidrográficas saudáveis.

Referências

ANA – Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil, 2018. Disponível em: < http://conjuntura.ana.gov.br/quantiquali>.

CONAMA 357. Resolução CONAMA nº 357, de 17 de Março de 2005. Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, v. 357, 2005.

Guedes, Fátima Becker; Seehusen, Susan Edda. Pagamentos por Serviços Ambientais na Mata Atlânica: lições aprendidas e desafios. Ministério do Meio Ambiente-MMA, 2011.

Postel, S. L., and Barton H. T. - Watershed protection: Capturing the benefits of nature's water supply services. Natural Resources Forum. Vol. 29. No. 2. p. 98-108. Blackwell Publishing, Ltd., 2005.

 

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Juliana Alencar é Doutora e Mestre pelo Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental (PHA) da Escola Politécnica da USP (EP-USP) onde atua na linha de pesquisa “Revitalização, recuperação e renaturalização de rios”, sanitarista pela Faculdade de tecnologia do Estado de São Paulo (FATECSP) e Bióloga pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP). Atua como professora na Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (FATECSP) e como consultora na área de projetos relacionados à infraestrutura urbana através da empresa AGESAN - Ambiental, Geotecnia e Saneamento, onde é sócia. Tem experiência nos seguintes temas: infraestrutura urbana, poluição difusa, recursos hídricos, qualidade da água no meio urbano, revitalização, recuperação e renaturalização de cursos d'água.

 

 

 

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